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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Céu

Uma vez perguntei ao meu pai como será no céu. Ele falou que acha que terá muitos animais e todos muito dóceis. 
Talvez ele tenha me dado essa resposta para dizer que será bom no céu. Nada melhor para uma criança do que animais. Eu sempre amei os animais, tanto que já quis ser veterinária e bióloga.

Com o passar do tempo fui dando outras profissões como resposta para "o que você quer ser quando crescer?".

O que quero ser quando crescer...
Já não me fazem essa pergunta mais.
Talvez achem que já sou ou que já cresci.

"O que quero ser?"
Já não era?
"Quando crescer?"
E em algum momento paramos de crescer?

No fundo acho que só queria crescer. Se soubesse disso acharia redundante perguntarem o que eu gostaria de ser quando crescesse. Crescer já não basta?

Ainda quero crescer, já estou crescendo (e sendo).
Temo em um dia achar que já cresci e parar de querer aprender.

Ou de que o tempo passe tão depressa que eu não tenha aprendido todos os idiomas, conhecido todas as culturas e lido todos os livros que eu quero e ainda vou querer ler.

Se eu fosse perguntar para alguém, hoje, como será no céu, eu esperaria que me respondessem: um lugar onde se aprenderá para sempre e com as melhores companhias.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Sou construção

Sou o que sou,
o que fui
e o que serei

Eu sou minha história
que faz parte da história

Sou o meu país
com sua geografia,
história e política

Sou meus ascendentes
Sou a criação dos meus pais
e a criação que meus pais tiveram

Sou as alegrias da infância
e as rupturas da adolescência

A mudança de todos os dias
e a decisão de não mudar às vezes

Tudo o que eu sou
depende do dia,
do clima, da companhia
Do lugar, do ar, do mar

Sou uma árvore de várias sementes
Uma folha caída, jogada ao vento
que não tem asas, mas se ficar de boa
pode voar

Pássaros

Então eu precisei entrar na pequena lavanderia do apartamento onde morei durante minha infância. A janela, a única do lar que não tinha grade, estava aberta e o dia estava feio e escuro. 
Entre as coisas velhas e abandonadas no frio e na escuridão, eis que me deparo com meu passarinho...
Meu pássaro?! Meus pássaros?! Meu Deus! Meus pássaros! Como pude me esquecer! Meu Deus, olha o estado deles! Como podem estar vivos?! Meu Deus! Sou uma pessoa terrível! Mal me lembro da última vez que os vi, que os alimentei!
Calopsitas, papagaios e outras raças que não conheço. Todos depenados, descoloridos, desnutridos, com a validade mais que vencida! Velhos, estragados! E quanto mais eu olhava, mais pássaros via.
Como se já não bastasse o estado moribundo que se encontravam, suas patas estavam amarradas nas gaiolas, daquelas que não são completamente fechadas.
A única coisa que consegui pensar em fazer foi desamarrá-los o mais rápido possível! Um por um, rapidamente! Eles precisavam sair dali! Já tinham esperado e se agonizado demais!
Enquanto eles se soltavam e alçavam voo, para longe de mim, minha culpa ia se aliviando e eu ia entrando em êxtase pela liberdade que finalmente os proporcionava. 
Alguns, porém, insistiram em voar de volta para suas gaiolas.