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terça-feira, 31 de maio de 2016

Não entre

Eu deveria ter vergonha de te dizer que não arrumo meu quarto tem uns meses. Deixei no canto coisas para fazer em alguma data não prevista ainda, mas que certamente chegará mais cedo ou mais tarde. Meus cachorros continuam latindo pela manhã (e pela tarde, e pela noite...) e você se incomodaria, eu sei. Meu pai continua o mesmo e não há revolução que o mude. Talvez se você entrasse em casa agora eu não teria o que te servir, o banheiro estaria sem toalhas para você secar as suas mãos, os lençóis, muito velhos, mal caberiam nos atuais colchões, embora não sejam tão novos assim. Provavelmente teria pó nos móveis da sala que eu não tive tempo de tirar e a internet teria grandes chances de não estar funcionando. Eu deveria me envergonhar, eu deveria me incomodar, eu deveria me preocupar. Mas sabe o que é? Eu estou bem sem te receber. Eu estou bem em não estar preparada para você chegar, em somente me receber e me hospedar. Eu não preciso provar nada para mim mesma. Eu sei onde ficam os cobertores e sei que provavelmente eles estão com cheiro de guardado, mas eu não ligo. Eu sei que estou conquistando o que sempre quis, eu sei que cada vez mais consigo ler mais clássicos, consigo falar mais idiomas, consigo encontrar as roupas que tem a ver comigo, consigo dominar certos assuntos. E eu não preciso te contar isso e esperar que você me veja como alguém grandinha para o acompanhar. Não preciso da sua estrelinha. Também sei que poderia estar mais próxima de Deus, que posso virar uma acadêmica solitária, que preciso me socializar mais. Mas, bom, o peso das minhas escolhas eu consigo aguentar e não preciso que você me aponte o que está errado em mim em alguma discussão na qual, para vencer no debate, você exporia minhas feridas. Então não precisa bater à porta, não precisa criar esperanças ou desejos em relação a mim. Eu consigo me sentir acolhida em minha própria bagunça e não preciso fingir ou me esforçar em ser alguém bom o suficiente para você, até porque isso eu sempre fui, muito facilmente inclusive.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

O amor como eu pensei não existe
é uma falsa representação da realidade
é uma idealização minha
é uma tentativa de materialização de outrém

Não é compartilhado
Não é eterno
Não é libertador

O único amor é
simplesmente é
sempre foi e sempre será

O universo é maior que o homem
e ninguém é obra de um só alguém
somente somos criaturas do único criador
portanto,
se existo e minha existência é assim
não é devido a alguém
é somente por causa do eu sou