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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Dada a inclinação da Terra, por um fenômeno astronômico raro, há meses só era noite em meu quarto. Eu gostei, me acostumei e estava bem com isso. Via como natural: a vida se consiste por fases. O que não espera eram os fechos de luz que, através de pequenas frestas da minha janela, timidamente começaram a entrar em meu ambiente reservado. Isso não me causou náuseas, raiva ou mau humor. Nem fez meus olhos arderem ou se fecharem. Apenas me causou curiosidade até que, em um processo razoável de tempo, me senti confortável em aos poucos abrir a janela para descobrir o que se escondia do lado de fora. Como se a luz quisesse ser gentil, não entrou bruscamente sobre meu quarto sombrio. Como se soubesse lidar comigo, esperou. Respirei e senti que com a claridade também vinha a brisa. E numa ânsia e súbita paixão desejei ser invadida em cada parte do meu corpo pelo brilho que combinou tão bem com minha pele agora aquecida, como se eu tivesse passado a morar em um abraço.

/ Loukanós