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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Grande e fracassada fuga

Então eu decidi me mudar, ir para um país diferente onde quase ninguém falasse meu idioma, onde eu não visse as mesmas coisas todos os dias e onde eu não visse as mesmas pessoas todos os dias.  Eu iria esquecer todos os momentos em que eu me senti mal e de todas as pessoas que me fizeram sentir mal.
E ainda sim era uma boa fuga, pois seria temporária. Eu sabia que iria voltar ao Brasil, mas também sabia que só me recordaria dos bons momentos e das boas pessoas, aquelas que eu amei e que me amaram e aquelas que sempre estiveram do meu lado. O resto ficaria para trás, esquecido.
E eu fui, subi no avião e as únicas memórias que vinham a minha mente eram os sorrisos das pessoas queridas por mim.
Passei um bom tempo nos Estados Unidos, e nem cheguei a me perguntar e me avaliar se tinha comprido meu objetivo, pois pensem bem: você não se pergunta se esqueceu de algo que você esqueceu, então sim, eu havia apagado todas as impurezas do meu passado. Cheguei à conclusão que estava pronta para voltar enquanto estava andando por uma rua de uma das 13 cidades que eu morei neste país.
Pousei no Brasil e desci do avião me sentindo leve, completamente em paz. Foi como se eu nunca tivesse estado nesse país, mas mesmo assim conhecia as melhores pessoas daqui.
-Com licença, senhorita  – e foi com essa voz que tudo voltou: todos os momentos horríveis da minha vida, todas as pessoas más e os pedaços de meu coração que haviam se juntado na viajem. Não precisei me virar para saber quem era, conhecia sua voz de todas as maneiras: roca, fina, grave, quando estava doente, quando gritava, quando chorava, quando estava alegre e quando cantava.
Tudo era culpa minha, eu não poderia ter desejado esquecer todos os momentos inesquecíveis, mesmo eles sendo ruins. Eu queria esquecer de quem me fez mal e me lembrar somente de quem havia me amado e as que eu amei, porém havia esquecido que ele, quem me fez mal, foi quem eu amei e quem me amou.
Ele havia pensado o mesmo, foi no mesmo dia que eu e voltou no mesmo avião que eu. Era o destino, sem duvida. Me virei  e ele já estava lá preparado, já sabendo o que eu iria fazer, pois era o mesmo que ele. Depois desse dia aceitamos o fato de que não podemos nos separar e nem se esquecer da existência do outro.

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